A técnica de contagem de carboidratos não é tão nova. Nos Estados Unidos essa técnica se
popularizou na década de 1990 e no Brasil no início da década de 2000. Na Europa a técnica
já havia sido proposta e testada ainda há mais tempo. Trata-se, na verdade, da compreensão
de que se são o carboidrato é o principal nutriente dos alimentos que eleva a glicemia, é
possível contar quanto há de carboidrato em cada alimento que será consumido e se aplicar
a quantidade de insulina adequada para levar o carboidrato desses alimentos para dentro das
células, não deixando que se acumule na corrente sanguínea, impedindo, assim, a elevação da
glicemia.
Parece bastante simples, não fossem alguns outros detalhes. Entre eles está o fato de cada
pessoa precisar de uma quantidade diferente de insulina para consumir a mesma quantidade
de carboidratos, sem elevar a glicemia (razão insulina:carboidrato). Para isso, fórmulas foram
criadas e testadas e, atualmente, os médicos e nutricionistas utilizam fórmulas mais precisas,
mas, ainda assim, fazem o ajuste fino das doses e da razão insulina:carboidrato (quantos
gramas de carboidrato podem ser consumidos para cada 1 unidade de insulina rápida ou
ultrarrápida injetada) de acordo com os resultados da glicemia capilar medida em casa pela
pessoa com diabetes.
Não há dúvidas de que a contagem de carboidratos revolucionou o tratamento de quem
tem diabetes. Era muito comum no passado se falar sobre “alimentos proibidos às pessoas
com diabetes”. Com a contagem de carboidratos, o enfoque do tratamento mudou, já que se
percebeu que mesmo alimentos com açúcar em sua composição poderiam ser consumidos
se os carboidratos do alimento fossem contados e a pessoa com diabetes se aplicasse a
quantidade de insulina correspondente a essa quantidade de carboidratos. Mas será então
que se pode dizer que está tudo liberado? A melhor resposta para essa questão talvez seja:
depende. Por um lado é verdade que proibido mesmo nada está. Ao mesmo tempo, há mais
tempo que a contagem de carboidratos, já se conhecia sobre Índice Glicêmico dos alimentos.
Ou melhor, um índice que varia de 0 a 100 e revela quanto o alimento eleva e glicemia,
comparando com glicose pura. Com isso, sabe-se que diferentes alimentos elevam a glicemia
de forma diferente, tanto em relação ao nível quanto em relação à velocidade de elevação da
glicemia.
Além do Índice Glicêmico, existe também a Carga Glicêmica (Glycemic Load), que leva
em consideração tanto a quantidade total de carboidratos consumidos quanto o Índice
Glicêmico para calcular quanto um alimento eleva a glicemia. Assim, apesar de a contagem de
carboidratos ter trazido muitas vantagens ao tratamento de quem tem diabetes, os demais
índices podem ser úteis para um controle mais refinado da glicemia. Algumas pessoas optam
por não consumir alimentos com açúcar refinado ou alimentos com alto índice ou alta carga
glicêmica, a fim de manter a glicemia mais estável. Mesmo aos que preferem se preocupar
apenas com a contagem de carboidratos, é importante lembrar que picos de glicemia após as
refeições podem tanto piorar o controle glicêmico e a hemoglobina glicada quanto aumentar
as chances de complicações, especialmente vasculares.
Entre as dicas fundamentais está lembrar que a insulina, mesmo ultrarrápida, não é capaz de
voltar no tempo para impedir que a glicemia se eleve, quando aplicada após uma refeição. Por
isso, procurar aplica-la antes de iniciar as refeições pode ser uma medida inteligente (a não ser
que esteja em hipoglicemia, ou quase, e com a glicemia baixando). Prestar atenção também
a alimentos com alta carga ou alto índice glicêmico, que são úteis para corrigir hipoglicemia,
mas quase impossíveis de serem consumidos fazendo contagem de carboidratos, sem que
sua glicemia se eleve muito, e substituí-los (refrigerante não-diet, suco de laranja/uva/maça,
alguns doces, etc.). E lembrar como outros nutrientes afetam a glicemia: proteínas geralmente
lentificam a absorção dos nutrientes da refeição e podem elevar a glicemia por volta de 2
horas depois de serem consumidas; gorduras lentificam a absorção dos nutrientes e podem
elevar a glicemia depois de mais de 4 ou 5 horas de consumidas; e fibras lentificam a absorção
dos nutrientes, e geralmente são contadas como carboidratos, mas devem ser descontadas da
quantidade total de carboidratos dos alimentos, já que não são digeridas.
É fundamental, ainda, ter consciência da necessidade da alimentação saudável, não só
para o bom controle glicêmico, mas para o funcionamento adequado de todo o organismo.
Quem tem diabetes e, com isso, maiores chances de desenvolver outras doenças, pode se
beneficiar prevenindo e postergando o aparecimento de outras doenças consumindo de forma
equilibrada alimentos como frutas, verduras, legumes, sementes, peixes, alimentos integrais e
evitando gordura animal, gordura saturada, gordura trans, alimentos refinados, e sal.
Pensando nisso, a Federação Internacional de Diabetes preparou para ser consultada a Roda
do Índice Glicêmico e dos Alimentos Saudáveis, que pode ser acessada em: www.idf.org/
worlddiabetesday/indice-glucemico?language=es
Mais informações em:
– Livro “Tenho diabetes tipo 1, e agora”, 2ª edição
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