Pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos desenvolveram em laboratório um açúcar com substâncias prebióticas que não são digeridas pelo organismo: o galactooligossacarídeo (GOS).
Em países como o Japão, ele é considerado oficialmente um alimento funcional, por causa do seu efeito fisiológico similar ao da fibra. Sua ingestão estimula a proliferação das Bifidobactérias e Lactobacillus no intestino humano, ou seja, é benéfico para as bactérias “boas” do organismo.
Com isso, o produto facilita a digestão, produz ácidos graxos de cadeia curta – como o ácido acético e lático –, o que estimula a maior absorção de cálcio no intestino. Também contribui para diminuir a glicose e pressão sanguínea e ainda tem efeito anti-câncer, pois diminui as substâncias putrefativas originadas pela ingestão de alimentos em geral.
Pela sua ação, o açúcar é indicado para pessoas intolerantes à lactose, diabéticos e mesmo para alimentação infantil, uma vez que as propriedades funcionais são encontradas também em um dos
alimentos mais seguros para os bebês, o leite materno.
Produto tem substâncias prebióticas que organismo não digere
Na pesquisa de mestrado apresentada por Rosângela dos Santos e orientada pela professora Gláucia Pastore, a inovação foi a produção desse açúcar em forma de xarope a partir de manipulações realizadas com o fungo Scopulariopsis extraído do solo. Feito que não era conhecido pela literatura.
Segundo Gláucia Pastore, no Brasil não se fabrica o GOS, sendo importado pela indústria de alimentos que o utiliza para a produção de iogurtes e papinhas de bebês. O interesse por alimentos dessa natureza é uma tendência mundial. “Os açúcares prebióticos são os mais efetivos, principalmente para crianças. Eles evitam diarréia e cólica e aumentam a imunidade dos bebês”, destaca a professora.
O fungo Scopulariopsis foi descoberto há mais de vinte anos. Na época já se sabia de seu potencial, mas a sua purificação e caracterização foram apontando outras alternativas de aproveitamento. Rosângela dos Santos, a partir das pesquisas já desenvolvidas com o fungo, teve o trabalho de simular em laboratório o que ocorre no organismo humano e produzir concentrações do açúcar. Ela realizou comparações com enzimas comerciais, a partir de outro fungo, o Aspergillus oryzae.
Os ensaios indicaram que o produto desenvolvido pelas pesquisadoras da FEA precisou de quantidade três vezes menor da enzima Beta-galactosidase – responsável pela separação da lactose –, o que implica em custo bem menor com um potencial muito maior. No doutorado, Rosângela pretende avançar nos estudos, aplicando o açúcar em camundongos e avaliar a sua ação no organismo. Para isso, ela vai utilizar a manipulação do soro de leite bovino, um resíduo da indústria de laticínios que não é aproveitada para outros produtos alimentares.
No organismo – No organismo humano, quando há a ingestão de produtos contendo a lactose, a enzima Beta-galactosidase cliva ou quebra a lactose e a separa em diversas substâncias.
Em altas concentrações de lactose, o galactooligasarídeo é produzido naturalmente. Como não é digerido pelo organismo, não apresenta contra-indicação para diabéticos, diferentemente dos produtos probióticos, que contêm microorganismos vivos e são usados em derivados de leite. No caso de pessoas intolerantes à lactose, que possuem deficiência da enzima Beta-galactosidas e que cliva a lactose, o produto também é benéfico porque concentra a energia necessária para o organismo sem a necessidade da enzima.
RAQUEL DO CARMO SANTOS
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