“Quando a gente desconhece a doença, acha que tudo é proibido”, admite fotógrafo com diabetes tipo 2


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Fabiana Grillo, R7

Você já imaginou comer tudo que gosta e, de quebra, ainda emagrecer? Para muitas pessoas pode parecer um sonho, mas esse é um dos sintomas do diabetes em estágio avançado. A felicidade de estar com as roupas largas sem fazer nenhuma dieta durou pouco tempo, ou melhor, até o fotógrafo e cinegrafista Francisco Mocinho, 43 anos, descobrir que os 10 kg perdidos em dois meses eram sinal de uma doença que acometeu praticamente todos os seus familiares por parte de mãe.

— Fui simplesmente visitar meu amigo Lawrence Ifidon, que é médico, no hospital que ele estava de plantão e saí de lá com o diagnóstico de diabetes tipo 2. Ele me achou magro e na mesma hora mediu minha glicemia, que estava 498 mg/dl [o normal é até 99 mg/dl em jejum]. Apesar de ter convivido com outros casos na família, fiquei apavorado de saber que eu também fazia parte desse grupo.

O medo das proibições alimentares foi uma das grandes aflições que o paulistano enfrentou desde que descobriu o diabetes, em janeiro de 2010.

— Quando a gente desconhece a doença, acha que tudo é proibido, mas depois de um tempo descobre que comemos para viver e não vivemos para comer. Não me privo de nada, mesmo trabalhando em bufê infantil.

Passar vontade não faz parte do vocabulário de Mocinho. Como os doces nunca foram sua paixão, ele garante que “neste quesito não houve sofrimento”. Para que novos hábitos de vida passassem a fazer parte de sua rotina, foi preciso procurar uma associação de pacientes para receber as informações básicas do diabetes e também entender melhor o que estava realmente acontecendo com o seu corpo.

— A ADJ [Associação de Diabetes Brasil] abriu a minha mente e foi frequentando a entidade que passei a compreender a doença. Sou tão grato por esse apoio que até me tornei um voluntário.

Para Mocinho, não foi fácil encontrar um médico que “falasse a minha língua, demorei quatro anos, até que o dr. João Antonio Lindo apareceu no meu caminho”, comemora.

— Antes de descobrir a doença, nunca tinha ido ao endocrinologista e à nutricionista. Só via esses profissionais pela televisão. Ao contrário do que pensava, aprendi que posso comer de tudo na quantidade certa. Se antes comia o melão inteiro, agora corto uma fatia.

Por estar acima do peso, ele começou a fazer reeducação alimentar e já conseguiu baixar os ponteiros da balança de 145 kg para 130 kg em apenas cinco meses.

— Emagreci 15 kg sem esforço. Além de escolher bem os alimentos, coloco meu celular para despertar a cada três horas, exatamente porque não posso ficar muito tempo sem comer.

O consumo de bebida alcoólica não foi alterado, mas o cigarro foi abandonado, “mesmo depois de quase 20 anos fumando”, orgulha-se.

— Bebo cinco vezes por ano, ou seja, nos aniversários, Natal e Ano-Novo. Fumava dois maços e meio de cigarro por dia e consegui largar sozinho há três anos.

Embora ainda não tenha alcançado sua meta glicêmica, o tratamento com insulina iniciado há três meses tem demonstrado sucesso.

— Fiquei com medo porque existem muitos mitos sobre a insulina, mas se soubesse que daria tão certo, teria começado a usar antes. Tentei vários medicamentos orais e nenhum foi tão eficaz quanto tomar duas picadas por dia.

O tratamento de Mocinho está quase perfeito, se não fosse um ponto falho.

— Preciso incluir o esporte no meu dia a dia. Descobri que odeio caminhar, mas adoro bicicleta. Por conta do meu peso, precisei montar uma bike especial e, assim que ficar pronta, vou começar a pedalar.

O diabetes acomete 14 milhões de brasileiros, segundo estimativa da SBD (Sociedade Brasileira de Diabetes). Desse total, 90% são considerados do tipo 2 — doença causada pelos maus hábitos de vida, como alimentação rica em carboidratos e gorduras associada à falta regular da prática de atividade física levando ao sobrepeso e à obesidade.

Segundo o endocrinologista João Eduardo Salles, coordenador do departamento de Diabetes do Idoso da SBD, idade avançada e hereditariedade são outros fatores que somados ao estilo de vida nada saudável contribuem para o aparecimento da doença.

— Pessoas que estão acima dos 40 anos e que têm familiares com diabetes tipo 2 devem redobrar os cuidados com a saúde e monitorar a glicemia pelo menos uma vez por ano. Por ser uma doença silenciosa, a pessoa pode demorar muitos anos para descobrir.

O diagnóstico de diabetes é confirmado quando a glicemia de jejum está igual ou superior a 126 mgl/dl. Outro teste que serve para diagnosticar o quadro é a curva glicêmica, que serve para medir a capacidade de o organismo processar uma quantidade excessiva de açúcar após duas horas de sua ingestão. Neste caso, o valor não pode ultrapassar 140 mg/dl.

Salles, que também é professor da Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, explica que ao contrário dos portadores de diabetes tipo 1 — em que o pâncreas para de produzir insulina — os pacientes do tipo 2 mantém a produção, mas por conta da gordura acumulada na região abdominal o hormônio não age corretamente, criando o que se chama resistência à insulina.

— A perda de peso estabiliza a doença e previne o aparecimento das complicações desencadeadas pelo descontrole glicêmico. O paciente que controla o diabetes desde o início, come direito e faz atividade física ganha qualidade de vida e até posterga o uso de insulina.

A negligência do tratamento, avisa o médico, leva a “uma amputação a cada 20 segundos e aumenta em até quatro vezes o risco de doença cardiovascular, em especial infarto e derrame”.

No Dia Mundial do Diabetes, lembrado nesta sexta-feira (14), o endocrinologista Walter Minicucci, presidente da SBD, deixa um recado para as pessoas que querem prevenir a doença.

— Adotar um estilo de vida saudável traz benefícios tanto para quem tem como para quem não tem diabetes. O aparecimento da doença está nas mãos de cada um de nós, lembrando que uma vez diagnosticado, o diabetes deve ser tratado com atenção o resto da vida.

Fonte: www.r7.com

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