Remédios para emagrecer: um mal necessário ou um bem mal utilizado?


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Remédios para emagrecer: um mal necessário ou um bem mal utilizado?

O Brasil é campeão mundial no consumo de remédios para emagrecer. Precisamos rever nossos conceitos e nossas prescrições

Como toda doença crônica, a obesidade precisa ser encarada com a mesma responsabilidade e seriedade destas moléstias. Não se trata de falta de força de vontade, de desvio de conduta, de desleixo pessoal. É uma doença crônica grave e que pode propiciar o aparecimento de muitas outras, como diabetes, hipertensão arterial, doenças cardíacas como o infarto, doenças ortopédicas e reumatológicas como a artrose, vários tipos de problemas psicológicos e até alguns tipos de câncer, como o de mama.

Segundo a Sociedade Brasileira de Endocrinologia, 40% da população brasileira está acima do peso e só 10% é obesa. Mas o Brasil é campeão no consumo de derivados de anfetamina, as drogas para emagrecer. “Precisamos mudar nossa forma de encarar a obesidade e deixar de relacioná-la a fatores estéticos exclusivamente, porque ela traz consigo muito mais problemas médicos e psiquiátricos do que podemos imaginar”, afirma a médica Ellen Simone Paiva, diretora-clínica do Centro Integrado de Terapia Nutricional, Citen.

Como toda doença crônica e ainda sem cura definitiva, a obesidade tem fases de remissão e recidiva e deve ser tratada cronicamente, como o diabetes e a hipertensão arterial. Essas doenças também possuem estágios, onde ora podem estar bem controladas, e ora, fora de controle. A dieta é sempre a pedra fundamental no tratamento da maioria das doenças crônicas. Entretanto, temos à disposição um grande arsenal de medicamentos que pode ser usado, desde o surgimento da doença, como é o caso do diabetes e da hipertensão arterial. “São inúmeras as drogas que podem ser usadas em várias associações e que, apesar de não serem curativas, conseguem desacelerar a evolução da doença e tornar a vida desses pacientes menos sofrida e muito mais qualificada. Assim também acontece com a obesidade”, diz a endocrinologista Ellen Paiva.
As drogas usadas no tratamento da obesidade são de quatro grupos fundamentais, explica a médica. “Muitos de vocês podem conhecer outras, das quais eu nem saiba da existência e que não se enquadram na minha classificação, dada a grande facilidade com que esses medicamentos aparecem no mercado”, diz a especialista. Nestes casos, defende a endocrinologista, tratam-se de placebos e outras extremamente deletérias, muitas vezes, contra-indicadas para o emagrecimento, como é o caso dos hormônios tireoideanos e diuréticos, muito úteis no tratamento das doenças tireoideanas, cardiológicas e renais e usados erroneamente em fórmulas e comprimidos industrializados para o tratamento da obesidade.
“Diuréticos e laxantes não emagrecem, eles desidratam e levam à perda de peso pela perda de água e não pela perda de gordura. Hormônios tireoideanos não emagrecem ninguém, pois quando levam à redução do peso é através de perda de massa magra e não de gordura”, explica Ellen Paiva. Os hormônios tireoideanos, quando ingeridos por pessoas que não têm deficiência desses hormônios, levam a um quadro de excesso de hormônios tireoideanos e imitam uma doença chamada hipertireoidismo. “Ou seja, causam uma doença para levar à perda de peso”, reforça a especialista.
Anfetaminas
Essas drogas são as mais antigas no arsenal de tratamento da obesidade. “A tendência é serem, progressivamente, abolidas do nosso receituário. Foram muito importantes até 10 anos atrás, quando não contávamos com nenhum outro tipo de medicamento para esse fim”, diz Ellen Paiva.
Os efeitos das anfetaminas se dão através de ação cerebral, elas agem nos neurônios responsáveis pela fome, bloqueando-os. “Diferente do que podemos pensar, abolir a fome não é uma estratégia inteligente para emagrecer. Sem fome, não seguimos dieta alguma, sem fome, simplesmente paramos de comer, principalmente os alimentos mais nutritivos e continuamos comendo as guloseimas. E não é por fome que comemos chocolates, biscoitos recheados, doces e sorvetes. Comemos porque gostamos, porque são saborosos”, defende a médica.
O resultado do uso de anfetaminas é um padrão alimentar intensamente restritivo, com dietas com quantidades calóricas muito baixas e nutricionalmente mais condenáveis ainda. O usuário perde muito peso rapidamente, fica desnutrido e jamais consegue fazer a manutenção do peso, quando a medicação é suspensa. “Estes pacientes não fazem reeducação alimentar, porque nem chegam a aprender a se alimentar corretamente. Acabam tendo que tomar esses medicamentos para sempre, o que não é indicado, uma vez que as anfetaminas causam dependência química e à medida em que vão sendo ingeridas por muito tempo, sua suspensão se torna cada vez mais difícil”, adverte a endocrinologista.
Estes medicamentos causam grande excitabilidade do sistema nervoso e levam a comportamentos compulsivos e intolerantes, interferem no sono e dão muita disposição para o trabalho. Muitas vezes, requerem a associação com ansiolíticos e antidepressivos, tornando ainda mais questionável a associação terapêutica que excita e deprime ao mesmo tempo. Quando são suspensos, geralmente surge uma grande sensação de cansaço físico, indisposição e sonolência.
Sacietógenos
Neste grupo, a droga mais conhecida e estudada é a sibutramina. “É uma das drogas mais adequadas ao tratamento da obesidade, uma vez que não bloqueia a fome. Atua interferindo no volume de comida necessário para as pessoas se sentirem saciadas”, explica a endocrinologista. Os pacientes continuam tendo fome nos horários normais das refeições, mas com muito menos comida eles conseguem saciedade e param de comer muito mais precocemente.
“O medicamento não leva à dependência nem ilude o paciente com a promessa de perder peso sem esforço. Requer motivação e uma dieta balanceada e adequada ao perfil de cada um, para que ele consiga se manter em dieta e dessa forma, ter maior chance de conseguir manter o peso”, diz a diretora-clínica do Citen. Outro medicamento sacietógeno é o rimonabanto, recentemente aprovado pelo FDA, nos EUA e na Europa. Estará chegando em breve ao mercado brasileiro.
Inibidores da absorção das gorduras
“Hoje, o Orlistat é a única droga capaz de reduzir a absorção da gordura dos alimentos. Ele não interfere na fome, nem na saciedade e sua ação se baseia apenas em seu efeito intestinal, bloqueando a absorção de 30% das gorduras dos alimentos em geral”, explica Ellen Paiva.
A droga apresenta a vantagem de poder ser usada por pacientes com antecedentes de doenças cardiológicas e neurológicas. Pode ainda ser associado aos sacietógenos sem nenhum problema para os pacientes.
Antidepressivos e anticonvulsivantes
“Alguns antidepressivos e anticonvulsivantes interferem na compulsão alimentar e no próprio impulso de comer. Dessa forma, são coadjuvantes no tratamento de pacientes obesos com transtornos ansiosos e tendência depressiva. Entretanto, seus efeitos são muito leves e é necessária muita motivação por parte do paciente para emagrecer”, afirma a endocrinologista.
Emagrecer, sem remédios, é possível
Ao iniciar um regime, o paciente deve ser orientado a iniciar uma dieta balanceada e evitar o uso e abuso de medicamentos. “Muitas vezes, o paciente se surpreende com a relativa facilidade de seguir uma dieta, quando esta foi preparada para ele, respeitando suas preferências e estilo de vida. Uma dieta que viabilize a perda de peso e a boa nutrição ao mesmo tempo”, defende a médica.
Para este paciente, que consegue perder peso sem tomar remédios, a manutenção do peso, após o emagrecimento é mais provável de ser obtida. Quando, apesar de todo o empenho de médicos e nutricionistas, o paciente não consegue perder peso, há a indicação do uso de medicamentos. “Eles são úteis se bem indicados nesses casos. O problema encontrado com esses medicamentos é o mau uso deles, caracterizado por uso prolongado, pelo uso em pacientes que não estão alcançando a perda de peso, pelo uso sem orientação nutricional adequada e pela associação de vários componentes como ansiolíticos, antidepressivos, diuréticos, laxantes, hormônios tireoideanos e muitos outros que nem mesmo, nós, médicos conseguimos decifrar a indicação”, alerta a endocrinologista Ellen Paiva.
Restrições da Anvisa
É preciso ter em mente que nenhum medicamento causa perda de peso, sem uma dieta. Todos eles atuam facilitando o processo de emagrecimento de quem está empenhado em seguir uma dieta. “No final, o que emagrece é a dieta e não os medicamentos”, defende a especialista.
Medicamentos são coadjuvantes no tratamento para emagrecer e, se utilizados dentro da indicação correta e com os cuidados necessários poderão ser muito úteis aos pacientes obesos. “Se, por outro lado, forem usados sem esses pré-requisitos, poderão acarretar graves efeitos colaterais, desde a irritabilidade leve até a incapacidade do convívio profissional e familiar do paciente, com mudanças de humor que vão desde a depressão até a euforia intensa, que não é percebida pelo paciente, culminando com a terrível dependência química”, afirma Ellen Paiva.

Em dezembro último, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, abriu uma Consulta Pública (Consulta Pública de Nº 89, aberta em 12 de dezembro de 2006) propondo uma resolução para evitar o consumo exagerado de remédios para emagrecer. A Anvisa quer que as substâncias anorexígenas – que inibem o apetite – sejam receitadas apenas em talões emitidos pela Vigilância Sanitária dos Estados.

O órgão quer ouvir a população sobre as formas de reduzir o consumo de remédios para emagrecer. A data limite para opinar sobre a questão é 12 de fevereiro. As sugestões podem ser encaminhadas por e-mail: cp89.2006@anvisa.gov.br , fax: (61) 3448-1489 ou por correspondência: ANVISA / Gerência Geral de Medicamentos – SEPN 515, bloco B, Edifício Ômega, Asa Norte,Brasília – DF, Cep: 70770-502.

CITEN
O CITEN – Centro Integrado de Terapia Nutricional – é uma clínica voltada à terapia nutricional de doenças crônicas em nível ambulatorial. Está apta a atender adultos e crianças, pois conta com equipe multidisciplinar altamente qualificada composta por médicos, nutricionistas, psicólogos e psicanalistas, devidamente credenciados junto às sociedades e instituições de classe nacionais e internacionais.

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